quarta-feira, 16 de junho de 2010

Castelo de cartas europeu

Unidos na diversidade, forçados pela necessidade.
Foram, até agora, estes os dois principais argumentos, exaustivamente repetidos e relembrados pelos eurocratas de Bruxelas, a favor da balcanização da Europa, do europeísmo e do projecto federalista europeu de Monnet e Coundenhove-Kalergi.
A Europa, artificial mas, de acordo com Bruxelas e Estrasburgo, não apenas real como quase paternalista, de cuja existência tentam convencer-nos desde o final da Segunda Guerra Mundial, é, segundo os seus defensores, essencialmente eurocratas internacionalistas da esquerda europeísta do Velho Continente, uma entidade étnica e cultural milenar, cuja existência, identidade e vontade foi, e é, supostamente defendida por Bruxelas. Foi com base nesta errónea afirmação, de acordo com a qual a Europa é mais que uma entidade geográfica, é um território étnica e culturalmente unitário, com uma entidade comum, não apenas nunca provada mas, pelo contrário, várias vezes desmentida, com, por exemplo, a dissolução da Checoslováquia, da União Soviética (cujo modelo é, curiosamente, muito semelhante com o da supranacionalidade institucional da UE) ou da Jugoslávia, que a Europa política e económica tem vindo a ser construída, tendo inclusivamente ignorado e/ou rejeitado sucessivos sufrágios e referendos, olvidando assim algo tão básico como a própria vontade dos povos europeus.
Inicialmente, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, os arquitectos do já falhado projecto europeu, justificavam a integração europeia com a efectiva desunião e antagonismo entre as nações do Velho Continente, verificada nas duas guerras mundiais, em que os povos europeus se tinham lançado uns contra os outros. Não conseguiram, no entanto, explicar a total ausência de conflitos militares na Oceânia e na América do Norte, por exemplo, que nunca esteve, até há pouco tempo, organizada em estruturas supranacionais. Obviamente, é de facto, possível afirmar que essa inexistência de guerras na região se deveu aos interesses estratégicos comuns dos países norte-americanos. Mas não os tinham também os estados da Europa Ocidental, ainda mais quando se encontravam ameaçados a leste pelo terror vermelho do império comunista? Fará esse argumento algum sentido?
Mais recentemente, porém, os europeístas e federalistas europeus têm vindo a alterar o seu discurso, não justificando a existência (ou continuidade) da União Europeia com a suposta necessidade de minorar o ódio entre os países e povos europeus mas, por outro lado, com uma absolutamente pretensa indispensabilidade da cooperação económica, política e financeira inter-europeia. Chegam inclusivamente ao absurdo de tentar convencer-nos que só podemos comerciar com os restantes países europeus se formos membros da UE. Nada mais ridículo.
Agora, no entanto, com a emergência da crise da dívida pública grega, esta Europa fingida, artificial, postiça e visivelmente carcomida por dentro, mostra aquilo que, de facto, é: O maior castelo de cartas da História Europeia e Mundial.
Com o euro e a própria União em risco, os governos europeus e europeístas, ciosos do seu condenado projecto anti-identitário, preparam-se para disponibilizar mais de 100,000,000,000€ (cem mil milhões de euros, imagine-se) à Grécia, ajuda em que Portugal participará com mais de 2000 milhões de euros, o suficiente para construir todo o projecto de alta velocidade português ou 5 submarinos U-209PN, do mesmo tipo dos dois que Portugal adquiriu em 2004, negócio que tem sido fortemente criticado pelo PS (apesar de Guterres, durante o governo socialista, anterior ao de Durão Barroso, ter planeado comprar três e não dois navios, no que é já exemplo de como a hipocrisia política pode ser levada ao absurdo).
Assim sendo, a pequena Grécia, país com pouco mais de 11 milhões de habitantes (número absolutamente insignificante entre os mais de 500 milhões de europeus), pode, efectivamente, fazer toda a UE cair.
Talvez assim a Europa, ou, mais precisamente, as nações europeias, forçadamente unidas numa efectiva diversidade que não é respeitada, e sob o argumento de uma pretensa necessidade, que, de facto, nunca existiu, recuperem aquele que é simultaneamente o seu direito mais importante e mais esquecido e ignorado: A independência política, económica e cultural.

Rafael Pinto Borges

Presidente da Mesa do Plenário Concelhio da JP das Caldas da Rainha

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